Gramática da Vida

“Sabe filho, as vezes eu penso como teria sido se eu tivesse largado a faculdade no quarto ano e tivesse ido fazer intercâmbio. Fico pensando como seria escolher as faculdades e achar a cidade perfeita. Como seria chegar e perder-me mil vezes e encontrar-me mil e uma. Se eu tivesse ido, eu teria feito mais uma família? 

Se eu fosse para Portugal eu me apaixonaria por um país sofrido e maravilhosamente lindo? Eu amaria as padarias, o Pingo Doce, a Galeria de Paris, eu amaria até a ESN? Eu faria um “Como se fosse a primeira vez” com a Ribeira todas as segundas? 

Se eu tivesse parado tudo e tivesse caído no mundo, eu ia rir até doer todos os dias por um ano? Eu ia fazer filosofia barata e faria um balde virar um ‘the whole world’ de ideias? 

Se eu tivesse ido, eu ia querer viajar. Muito. Mesmo se eu não tivesse dinheiro. Eu ia querer ver castelo em Guimarães, show de jazz em Barcelona, correr (literalmente) pelos caminhos de Santiago de Compostela. Eu iria cantar “Corinthians Campeão” nas ruas do Algarve naquele título paulista de 2013. 

Ah filho, seria tão legal se algum amigo do Brasil fosse visitar. Tia Pati teria ido. Teria vencido a “cidade invicta do Porto”. Tia Keka aposto que ia levar cachaça mineira e doce de leite e teria selado mais que nunca a amizade que nasceu no choro da Oktober.

Se eu fosse pra Europa eu teria mochilado. Iria para a Turquia! Levaria um tapa da vida na cara que faria ser diferente pra sempre. Dançaria, sem saber dançar, mas porque saberia sorrir. Queria ir pra Croácia e Montenegro, por os pés para o alto e respirar, pensar, rezar. 

Eu ia querer experimentar couchsurfing. Em Istanbul, Praga, Budapeste, Berlim. Visitaria (novos) velhos amigos em Dublin e Londres. Fecharia a irmandade em Edimburgo.

Se eu tivesse feito intercâmbio, eu pegaria carona? Ainda que fosse numa estrada vazia à meia noite na Alemanha? Eu dormiria na rua? Seria confundida com homeless e diria “não, obrigada, não quero comida e nem dinheiro”. Porque será que as pessoas iriam fazer esse bem, só pelo bem? E depois disso, eu iria passar o ano novo dos meus sonhos em Berlim? 

Eu ia querer ir pro Marrocos. Acho que eu veria que existe todo um outro mundo. E eu pensaria mais que nunca, o quanto ainda vale ficar  na luta. Iria dançar no deserto!!! Escutaria e mais, eu cantaria, MUITO alto em cima das dunas que “em cada canto eu vejo o lado bom.” 

Acho que seria diferente filho, acho que eu teria muito mais histórias pra te contar. Você teria muito mais “tios e tias” que você poderia contar tanto quanto pode contar comigo. Talvez por essa escolha, você não tivesse playstation ou barbie do ano, mas você já nasceria com um pouquinho de vários lugares do mundo dentro de você.”

E aí eu acordei na minha casa do Porto. E não tinha sido um sonho.

Porque na minha vida eu transformei o futuro do pretérito para o pretérito PERFEITO. 

Eu fui, eu fiz, eu vivi.

 

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2 respostas para Gramática da Vida

  1. Cássia disse:

    Me vi identifiquei com esse relato, confesso que quase chorei!

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